quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Cícedo Guedes, presente!

 

Trabalho de Campo da disciplina de Geografia Agrária do Curso de Geografia da FFP-UERJ, realizado em junho de 2012 no Assentamento Zumbi dos Palmares, em Campos de Goytacazes, com seu Cícero Guedes (na ponta esquerda da foto).


Há 10 anos, no dia 26 de janeiro de 2013, Cícero Guedes, uma das principais lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio de Janeiro, foi assassinado covardemente em Campos dos Goytacazes. Cícero estava saindo de uma reunião no Acampamento Luis Maranhão - localizado nas terras da falida Usina Cambahyba - e indo de bicicleta para seu lote no Assentamento Zumbi dos Palmares quando foi vítima de uma emboscada. Até hoje, passados 10 anos, nem executores, nem mandantes foram punidos. 

Cícero, alagoano de nascimento, trabalhou muitos anos como cortador de cana, em seu estado natal e no Rio de Janeiro, para onde migrou nos anos 1990. Em ambos submetido a condições análogas à escravidão. Quando o MST ocupou as terras da falida Usina São João, em, 1997, Cícero não teve dúvidas em se juntar ao Movimento, naquela que foi a primeira ocupação realizada em uma terra de usina em Campos dos Goytacazes. No ano seguinte conseguiu seu lote no Assentamento Zumbi dos Palmares, ao qual deu o nome de Brava Gente. Seu lote virou uma referência em produção agroecológica – com destaque para uma agrofloresta logo na entrada composta por coqueiros, pés de café, acerola, etc - e era visitado por escolas e universidades de todo o estado do Rio. 

Cícero era também um entusiasta das feiras agroecológicas, realizadas em universidades com a UENF e o IFF-Campos. Quando o MST-RJ criou a Feira Estadual da Reforma Agrária no Largo da Carioca, Centro do Rio, em 2010, era um dois mais animados. Seu vozeirão ecoava pela feira e seu coco gelado aliviava o calor de dezembro dos cariocas que passavam pelo Largo da Carioca. Hoje a Feira, que em dezembro de 2022 teve sua 14ª Edição, leva seu nome: Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes. 

Cícero também foi presença marcante no Comitê Popular pela Erradicação do Trabalho Escravo do Norte Fluminense e participou ativamente da luta contra a violência e as arbitrariedades contra agricultores e pescadores de São João da Barra atingidos pelo Porto do Açu. Uma de suas últimas vitórias foi a luta contra a duplicação da estrada que corta o Assentamento Zumbi dos Palmares, projeto hoje retomado pelo governo estadual e pela Prefeitura de Campos dos Goytacazes. 

Cícero segue presente nas lutas do MST. O Acampamento criado em 2021, em plena pandemia, quando as terras da Usina Cambaybha, onde seu sangue foi derramado, foram reocupadas, chama-se Cícero Guedes. Seus filhos seguem integrando as fileiras do MST, Ruth como educadora do campo num assentamento em Mato Grosso do Sul e Matheus como integrante do Setor de Produção do MST/RJ e trabalhador do Armazém do Campo. 

Como diz a letra de uma das canções que Cícero adorava cantar:

O risco que corre o pau, corre o machado

Não há o que temer

Aqueles que mandam matar também

Podem morrer!

Essa é a nossa proposta

E a gente vai ganhar!

Se levarem um daqui,

Surgem mil em seu lugar!

Cícero Guedes, presente!